O Dia Nacional de Combate ao Bullying, que ocorre sempre no dia 7 de abril, ganhou destaque recentemente quando Giulia Costa, filha da atriz Flávia Alessandra e do saudoso Marcos Paulo (1951-2012), expôs em suas redes sociais a enxurrada de comentários desagradáveis e desnecessários que vinha recebendo, envolvendo críticas sobre seu corpo e cabelo, entre outras coisas.
O psicólogo Alexander Bez, especializado em Ansiedade e Síndrome do Pânico pela Universidade da Califórnia (UCLA) e em Saúde Mental, trouxe esclarecimentos importantes sobre os sentimentos que uma pessoa que sofre bullying pode carregar consigo. Giulia Costa foi alvo de ataques nas redes sociais, com mensagens ofensivas como: “Onde foi parar a beleza dela, gente?”; “Ela abandonou a academia e agora está curtindo a tal liberdade… já foi mais bonita!”; “Só faltou os pelos no suvaco”; e “Parabéns pela gravidez”, foram algumas das críticas maldosas que Giulia recebeu em um de seus posts.
Outras celebridades também já enfrentaram o bullying:
A atriz Lucy Alves compartilhou sua experiência: “Ser magra até certa época era motivo de vergonha e bullying, e cheguei a pesar 48 kg. Eu escondia minhas pernas e meus braços longos. Felizmente, hoje não é mais um problema. Aceitar o seu biotipo é libertador, o importante é estar feliz com ele. É uma conquista diária.”
Fiuk, cantor e ator, relembrou sua difícil experiência na escola: “Eu tinha muita dificuldade na escola, sofria muito bullying porque, devido à bronquite asmática de fundo emocional, houve um momento em que eu levava um tubo de oxigênio para a escola. Os meninos me davam tapas na cabeça e eu ficava sem ar naquele momento. Minha mãe foi muito solidária. Desde criança, eles acabavam comigo na escola e eu sempre tinha que me isolar, sentava no canto da sala, jogavam papel…”
Demi Lovato, a cantora, compartilha como sua experiência na escola afetou sua vida: “Eles chegaram a ir à minha casa me insultar verbalmente, me chamando de gorda. Isso fez parte dos gatilhos para meus transtornos alimentares.”
Viih Tube enfrentou o ciberbullying e sofreu impactos dolorosos em sua vida, devido a xingamentos e ameaças: “Precisei de apoio psicológico e muito tempo para superar episódios de depressão e pensamentos suicidas.”
A empresária e ex-BBB Amanda Djehdian compartilhou sua história: “Com uns 15 anos, começaram a falar na escola e eu percebi que tinha olheiras. Eu brincava junto para ver se paravam de falar, mas eram sempre as mesmas piadas: ‘tomou um soco?’ e ‘parece um panda’. Minha autoestima ficou terrível. Cheguei ao ponto de me desvalorizar muito por causa das piadas. Chegava da escola e chorava muito.”
Entrevista com o psicólogo Alexander Bez
O psicólogo Alexander Bez, compartilhou informações sobre as sequelas deixadas pelo bullying, como buscar ajuda e os danos emocionais causados por essas experiências. Confira mais detalhes abaixo.
Alexander Bez – O bullying pode ser definido fundamentalmente através de dois elementos prejudiciais para suas vítimas: humilhação e segregação. Ambos são deliberadamente empregados com o intuito de causar ferimentos e menosprezar aqueles que sofrem as consequências.
O bullying opera por meio de um sadismo extenso e intencional, encontrando satisfação existencial na intenção de rebaixar o outro. Contudo, as marcas deixadas podem ser profundas, afetando tanto a esfera psicológica quanto a física. É importante notar que as marcas físicas também podem ter uma conotação negativa, seja decorrente de violência verbal, levando a pessoa a recorrer a diversos mecanismos de compensação (potencialmente desencadeando transtornos obsessivo-compulsivos), ou resultante de agressões físicas diretas. As marcas emocionais deixam cicatrizes profundas, frequentemente manifestadas por uma série de problemas mentais, que vão desde a depressão até a ansiedade, transtornos alimentares e insônia. Além disso, as vítimas frequentemente vivenciam o temor constante de passar por novas humilhações. O bullying é como um trem fantasma que não tem um destino fixo, a menos que a denúncia e o fortalecimento da autoestima consigam combatê-lo.
Quando presente na infância, é ainda mais prejudicial, especialmente nas fases iniciais, uma vez que a mente está em processo de formação e, consequentemente, as fraturas podem ser mais profundas. Isso pode levar, por exemplo, ao desenvolvimento irreversível de psicose devido à violência que o bullying inflige. Na fase adulta, não desencadeará o desenvolvimento de psicose, mas, se a pessoa tiver predisposição mental para isso, o bullying pode ser o gatilho psicológico que desencadeia o processo. É de suma importância denunciar o bullying, seja ele na escola ou no ambiente de trabalho, e identificar aqueles que perpetram essa violência.
As principais sequelas deixadas pelo bullying incluem danos cognitivos resultantes de agressões verbais, humilhação e, quando presente, marcas físicas. Isso pode levar a uma diminuição significativa da autoestima, desmotivação, sensação de desvalia, e até mesmo prejuízos financeiros devido à perda de motivação e eficiência no ambiente profissional. Condições mentais psicóticas podem se tornar irreversíveis, enquanto condições mentais neuróticas são passíveis de reversão, mas podem ser de longa duração. O medo constante de sofrer bullying coloca a pessoa em estado de alerta contínuo, afetando tanto a frequência cardíaca quanto a pressão arterial.
Buscar ajuda frequentemente é um desafio complexo, uma vez que envolve uma tríade de condições psicológicas: medo, vergonha e culpa. Ter a coragem de buscar auxílio é fundamental. Isso pode começar em casa, especialmente quando a vítima é uma criança, mas, em todos os casos, deve também contar com o apoio das autoridades, como diretores de escola, administradores de faculdades ou superiores no ambiente de trabalho.